Egressa da Rede Municipal de Maceió, aluna surda passa em Química no Ifal
Allycia Katylle contou com ajuda da comunidade escolar e da família; ela também destacou a importância dos aulões do Educar e Massa para a sua aprovação

Desde pequena, Allycia Katylle, de 17 anos, sempre soube que a Educação seria sua maior aliada para conquistar um futuro brilhante. Diagnosticada com surdez ainda na infância, ela enfrentou inúmeros desafios, mas, com determinação, apoio da família e muita dedicação aos estudos, a jovem alcançou a tão sonhada aprovação no Instituto Federal de Alagoas (Ifal) e, em breve, iniciará o Ensino Médio no curso de Química.
Egressa da Escola Municipal Padre Brandão Lima, localizada no bairro Cidade Universitária, Allycia conta que, desde criança, sempre se interessou em misturar cores e outras atividades similares à química. Isso sempre alimentou seu desejo de estudar algo relacionado à área e perseguir seus interesses pessoais.
Para se preparar para a prova do Ifal, Allycia destacou a ajuda da família e de sua intérprete de Libras da Escola Padre Brandão Lima, Lucy. “Logo no começo do 9º ano, a Lucy me aconselhou a fazer a prova do Ifal. Ela fez uma apostila toda em Libras, para eu levar para casa e ficar estudando. Também teve a minha tia, que enviava para mim alguns vídeos, todos direcionados à prova do Ifal, para que eu ficasse em casa estudando”, relatou.
A estudante também participou dos aulões do Pré-Ifal Educar É Massa, realizados pela Prefeitura de Maceió, através da Secretaria Municipal de Educação (Semed). A segunda edição do evento contribuiu para que 168 estudantes conquistassem a aprovação no exame de seleção do Ensino Médio do Instituto Federal de Alagoas.
“Aprendi muito no aulão que a Semed realizou, que era focado especialmente na prova. Foi muito bom, porque teve acessibilidade, intérprete de Libras para a comunidade surda. Para mim, foi muito importante, porque lá os professores ensinavam dando dica de como seria a prova do Ifal”, compartilhou Allycia, destacando que as aulas de Matemática foram as suas preferidas.
Resistência e empenho
A trajetória da jovem não foi fácil. Cada uma de suas conquistas foi fruto de resistência e empenho. Agora, ao ingressar no Ifal, ela não apenas celebra sua vitória pessoal, mas também reforça a importância da inclusão educacional e do direito de todas as pessoas a uma educação de qualidade.
Para ela, a ajuda da Escola Municipal Padre Brandão Lima, que disponibilizou uma intérprete de Libras para acompanhá-la durante as atividades escolares, foi essencial para seu desenvolvimento enquanto estudante.
“Assim que eu comecei a estudar era muito difícil, porque não tinha intérprete. No 6º ano foi difícil, porque foi a época da pandemia, então a gente ficava em casa, estudava em casa através de vídeo aulas, mas no 7º ano, mudou. Eu ia para a escola todos os dias, tinha intérprete na sala de aula e conseguimos fazer uma boa interação entre professor, intérprete e os alunos”, explicou.
Allycia também conta que, pela escola possuir uma comunidade de alunos surdos, seu processo de autoconhecimento e aceitação também foi facilitado pela interação com pessoas que se comunicam através da Libras.
“Aqui na escola, eu tenho uma amiga chamada Ana, que ela sempre estava comigo, também me apoiando. Aqui na escola tem outros estudantes surdos de séries diferentes, mas a minha amiga de sala de aula era a Ana, que estudou comigo desde o 8º ano. Ela é ouvinte, mas eu quero agradecer a ela também pela parceria e aos professores também”, comentou.
“Eu quero muito aprender com o curso de Química, porque eu quero no futuro passar em Medicina Veterinária na Universidade Federal de Alagoas (Ufal). Eu estou muito animada em começar a estudar no Ifal. Quero agradecer a minha mãe por todo apoio e ajuda, por ter me ensinado também a me desenvolver, por ter me levado para as terapias. Eu sei o quanto foi difícil, os vários ônibus que pegamos, porque era muito longe, mas com esforço a gente conseguiu”, comemorou.
Acreditar no potencial
A mãe de Allycia, Amanda Cunha, compartilha com emoção a trajetória de superação da filha, que, desde cedo, enfrentou enormes desafios. Com a falta de intérpretes de Libras nas primeiras fases escolares, Allycia teve dificuldades para aprender. "Ela não ouvia o que o professor falava, e a comunicação com os colegas era quase impossível", lembra Amanda.
Durante os primeiros anos de escolarização, Allycia não teve o apoio de intérpretes. Isso gerou grande angústia tanto para a filha quanto para a mãe, que, ao ouvir as palavras de desânimo da criança, tentava incentivá-la: "Você não pode parar de estudar, você tem que continuar". Amanda buscou diversas alternativas, até conseguir um intérprete no 2º ano, mas a falta de continuidade dessa ajuda tornou a situação ainda mais difícil.
Em busca de uma solução, Amanda tentou até mesmo entrar na justiça para garantir que Allycia tivesse direito a um intérprete em uma escola particular, mas a ação não teve sucesso. Mesmo assim, a mãe não desistiu. "Eu comecei a ajudá-la em casa. Colocava palavras nas portas, tentava ensinar a ler, porque ela ainda não sabia", conta.
Quando a família se mudou para São Paulo, Allycia conseguiu ingressar em uma escola bilíngue. Lá, pela primeira vez, ela teve o suporte necessário e experimentou um desenvolvimento significativo. "Ela se sentiu acolhida, como nunca antes. Era uma escola que respeitava e acreditava no potencial dela", diz Amanda.
No retorno para a cidade natal, a jornada continuou com o apoio de intérpretes, mas o impacto da pandemia trouxe mais desafios. "A pandemia e as aulas online dificultaram muito a interação, mas o intérprete ainda foi fundamental nesse período", afirma Amanda. A mãe destacou que a dedicação dos intérpretes fez toda a diferença no desenvolvimento de Allycia. "Eles acreditaram nela, no seu potencial, e se esforçaram para que ela aprendesse".
Allycia, que foi bem recebida e integrada na Escola Padre Brandão Lima, teve a oportunidade de ensinar aos colegas sua língua a Libras. "Os alunos começaram a se interessar pela língua de sinais, e Allycia se esforçou para ensinar, se sentindo valorizada e aceita", revela Amanda, emocionada. Para a mãe, ver a filha interagindo, fazendo amigos e conquistando novos espaços foi um marco de realização.
O apoio da escola e da comunidade foi fundamental. "Eu sou muito grata a todos que fizeram parte dessa jornada, aos professores, intérpretes, diretores e colegas. Eles receberam não só a minha filha, mas a mim também, com muito carinho", agradece Amanda.
Agora, com Allycia prestes a ingressar no curso de Química no Ifal, Amanda reflete sobre a importância de acreditar no potencial dos surdos. "A superação da Alice não é só dela, mas de todos que acreditaram nela. A luta é constante, mas ela vai longe", diz, com confiança no futuro da filha. "Eu acredito nela, ela vai ser uma veterinária de sucesso", diz Amanda, cheia de gratidão. "Eu e a minha filha chegamos até aqui porque Deus esteve conosco, e ele continuará nos guiando".
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