Educação celebra o Dia Mundial da Conscientização do Autismo contando histórias de transformação através do ensino

Inclusão muda o curso de educadores, mães e alunos que convivem com o Transtorno do Espectro Autista

Arthur Vieira e Jamerson Soares/Ascom Semed 02/04/2023 às 08:00
Educação celebra o Dia Mundial da Conscientização do Autismo contando histórias de transformação através do ensino
Professora Neuci Teixeira, estudante Joaquim e sua mãe (à dir.) Miquelane Almeida. Foto: Jamerson Soares/Ascom Semed

Na rede municipal de Educação, são mais de 900 alunos que estão dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Estudantes que, através do ensino, conseguiram se desenvolver e obter uma maior qualidade de vida. São centenas de casos de educadores que por meio da dedicação e das capacitações promovidas pela Secretaria Municipal de Educação (Semed), puderam fazer diferença na vida dessas crianças.

Uma das histórias que a Educação de Maceió ajudou a construir é a do pequeno Guilherme Almeida, 07, estudante da escola Doutor Baltazar de Mendonça, localizada no Jacintinho. A Aline Soares é a mãe do estudante e conta como toda a trajetória de vida do Gui começou.

“O diagnóstico do Guilherme foi dado quando ele tinha apenas dois anos, mas antes disso ele estava fazendo acompanhamento com a fonoaudióloga, porque ele estava perdendo habilidades: ele já não estava batendo palmas, não estava falando mais, parou de dar beijo, tchau, começamos a perceber que ele estava perdendo algumas habilidades”, contou.

Por ser o primeiro filho, Aline não tinha como comparar com outras crianças e achou por um tempo que era um problema passageiro, uma fase, e que quando ele tivesse em convivência com outras crianças ele ia melhorar. Mas com o passar do tempo ela percebeu novos aspectos como a audição do pequeno.

“Eu passava horas chamando o nome dele e ele não virava, não atendia pelo nome. A gente achou que era um atraso no desenvolvimento. Em vez de neuro, eu fui ao otorrino. Só que aí foi descartado, ele não tinha problema de audição, não foi diagnosticado. Fomos em outra consulta, aí foi quando a psicóloga me deu um alerta, disse que ele tinha sinais de autismo”, disse.

“Eu já comecei a me preocupar. Ela me pediu para eu esperar até o Gui entrar em uma escola. Chegou o tempo de estudar e quando ele foi para a primeira escola, a gente foi percebendo a diferença em relação com outras crianças. No primeiro dia de aula ele não se aproximava, se esquivava, ficava segurando em mim, não queria ir para o chão e brincar com os outros meninos. Percebemos a questão da socialização, ele não se socializa”, concluiu.

Aos dois anos, Guilherme foi diagnosticado dentro do Espectro Autista nível 3. A partir disso, a família começou a buscar informações que pudessem proporcionar mais entendimento sobre o autismo.

Guilherme passou por diversas escolas, terapeutas e hoje faz terapia, porém o tratamento é através de um plano de saúde que, segundo Aline, além de ser caro, dificulta também o acesso a terapias adequadas.

Ainda segundo ela, as escolas da rede particular dificultam o processo de matrícula ou não fazem o trabalho devido, deixam a criança à “toa”, fora da sala.

Hoje, Guilherme faz parte da rede municipal de Educação e, segundo sua mãe, o principal motivo foi a forma que as mães falaram que as crianças estão sendo bem acolhidas, que as escolas públicas estão fazendo um trabalho diferenciado, um trabalho voltado mais para eles.

"A escola pública está mais preparada para receber essas crianças. Eu me sinto acolhida quando meu filho é acolhido. Quando nossos filhos são aceitos em qualquer lugar, nós como mães também nos sentimos aceitas. Independente de ser escola ou na casa de parente, quando tem um olhar diferenciado e conseguem entender o que acontece com nossos filhos, é muito bom“, revelou Aline Soares.

Além de Guilherme, a Educação municipal também ajuda a edificar o caminho do Joaquim Almeida, 08, também estudante da escola Doutor Baltazar de Mendonça. Joaquim ingressou na rede em fevereiro de 2022.

Segundo Miquelane Almeida, mãe de Joaquim, no começo a adaptação foi bem conturbada, porque ele chegou e queria derrubar a porta, não queria ficar quieto, mas a escola conseguiu contornar toda essa situação.

Miquelane Almeida, 33 anos, mãe do Joaquim, é técnica de laboratório, porém precisou sair do emprego para cuidar do filho.

Segundo a mãe, o diagnóstico foi dado quando ele tinha quatro anos. Ele sofreu alguns tipos de preconceito escolar em escolas particulares e foi neste momento que decidiu colocar em escolas públicas. Para Miquelane, as escolas públicas estão dando mais suporte que as escolas particulares.

“Há muita falta de profissionais capacitados para trabalhar com crianças com autismo e na educação pública de Maceió existem esses profissionais. Foi tudo muito novo para ele no início de adaptação, mas agora ele está mais adaptado. Ele teve uma melhora na parte cognitiva, ele conseguiu ler e escrever devido aos tratamentos e atividades adaptadas na escola. Joaquim é uma criança que já veio com um atraso na aprendizagem por causa da pandemia, mas agora ele está conseguindo desenvolver de acordo com a sala”, disse Miquelane Almeida, mãe do Joaquim

Os pais de Joaquim sempre estão presentes na vida do filho, buscando o melhor para o pequeno.

Por conta das aulas Joaquim teve melhoras gigantescas nas estereotipias, que são movimentos repetitivos bem comuns em pessoas com autismo, também na fala, já que Joaquim era não verbal, além de melhorias na hiperatividade e na deficiência cognitiva.

“Eu me sinto acolhida quando ele é acolhido, quando não é, eu viro uma leoa. Mas aqui na escola eles acolhem muito bem tanto as crianças quanto os pais. A família é tudo muito unido para um objetivo só: o desenvolvimento dele. A gente sente um carinho enorme por dentro quando vejo que a escola tem conseguido dar o suporte para essas crianças. Me sinto bem e confiante”.

Comunidade escolar auxilia crianças com TEA

Para gerar essas mudanças é necessário muito amor, dedicação e carinho, características que não faltam para as professoras Neuci Teixeira, professora da Escola Baltazar há 5 anos, mas na Educação há 22 anos e Isabel Cristina Cavalcante, especialista em Educação Especial e professora efetiva da Educação.

Depois da entrevista com Miquelane, ela e a Joaquim foram fazer uma visita à professora Neuci na sala de aula. Joaquim entrou na sala, bem rapidamente e com euforia, dando um beijo no rosto da professora, que tem Joaquim como um filho. A professora não conseguiu segurar as lágrimas ao falar dos seus alunos.

“Minha experiência com o TEA vem desde 2004, mas com atendimentos psicopedagógicos. A minha experiência em sala de aula mesmo foi ano passado com o Joaquim. Nesse momento eu vi o quanto a escola é importante para o desenvolvimento de crianças como o Joaquim. Não é fácil, mas é muito gratificante ver a evolução, a socialização, a aprendizagem, porque eles aprendem, do jeito deles, mas aprendem. E além de aprender, ele me ensinou muito a lidar com as diferenças”, disse a professora

Questionada sobre o motivo do choro naquele momento, Neuci respondeu que lembrou do percurso do Joaquim e de todas as crianças com esse transtorno.

“Eu choro porque essas crianças com TEA são muito desacreditadas. O mundo está crescendo e eles estão aí. Para as pessoas e para o poder público é como se eles não existissem. São poucas escolas particulares que aceitam, é muito difícil. Eu me sinto gratificada. Falo muito do Joaquim porque ele é minha cria do coração”, disse, emocionada.

Segundo a professora Isabel Cristina, as crianças dentro do espectro autista não aprendem sozinhas, por isso precisam de pessoas capacitadas para isso. Ela contou que não é fácil ser professor porque tem 20 a 30 alunos, e entre esses alunos têm 3 ou 4 com deficiência, então é difícil conciliar.

“Cada dia e a cada ano que se passa é grande, um enriquecimento muito grande, uma melhora. A criança que nem entrava na sala, hoje em dia ela já entra. A inclusão existe quando se tem a atenção, o carinho e o acolhimento na escola”, disse a professora.

“É difícil ser professor, mas na educação especial é ainda mais difícil, mas quando se tem amor, se torna mais leve. Damos o melhor para nossos alunos, com atividades adaptáveis e repetitivas. O apoio da prefeitura é importantíssimo para o desenvolvimento dessas ações na vida das nossas crianças", concluiu a professora Cristina Cavalcante.

A diretora da escola, Suzana Vasconcelos, contou que a unidade Doutor Baltazar Mendonça é referência no ensino inclusivo dos alunos. Segundo ela, todos os anos a escola é muito requisitada.

“Fazemos sempre o possível para atender da melhor forma possível, sempre com acompanhamento, tanto das salas de recursos, como também com auxiliares de sala, professores todos unidos para isso", disse a diretora.

A escola hoje atende cerca de 20 estudantes com autismo. Para a diretora, é gratificante ver que o trabalho está sendo feito.

“É muito gratificante quando a gente vê a alegria, o sorriso dessas crianças. Os olhos brilham. Tem crianças que são muito acanhadas, têm medo, porque nunca foram a uma escola. Tem criança de nove anos que nunca saiu de casa e está frequentando pela primeira vez. Para a gente é muito importante porque vemos as dificuldades. Sabemos de todas as dificuldades que enfrentamos hoje em dia, mas melhorou muita coisa, especialmente no apoio. A gente faz o máximo que a gente pode para que o atendimento seja o melhor possível”, concluiu

Educação Especial nas escolas

Segundo a Coordenadora do setor de Educação Especial, Cláudia Valéria Alves, cerca de 80% das escolas possuem sala de recurso e que todas as 144 escolas do município tem estão aptas para ofertar vagas para estudantes com Tea e estudantes que possuam alguma deficiência.

“Todas as estão aptas para ofertar vaga para estudantes com deficiência, 90 escolas possuem sala de recurso, onde é feito esse duas vezes acompanhamento no contraturno da aula”, disse a coordenadora.

“Além das salas, temos estudantes de psicologia e pedagogia auxiliando as crianças com autismo e crianças com deficiências da rede. Temos um sistema online inclusivo, quando a família se candidata a vaga na rede e comprova que ele tem deficiência, o sistema prioriza esse aluno temos transportes acessíveis para a locomoção dos estudantes”, concluiu

Atualmente todas as escolas municipais possuem estudantes dentro do espectro autista, para promover maior conforto e proximidade entre a casa dos alunos e o local de ensino, a rede municipal conta com uma frota de ônibus escolares e monitores capacitados para atender as necessidades das crianças.

Para tudo funcionar e garantir um aprendizado digno aos estudantes com Tea, é feito o Planejamento Escolar Especializado para orientar os Profissionais de Apoio Escolar quanto ao acompanhamento desses estudantes.

A Semed junto às coordenadoras orientam os professores quanto ao funcionamento desses estudantes para que os professores façam as adaptações necessárias das atividades escolares.

"É necessário pensar em uma educação inclusiva que abrange todas as crianças, com suas individualidades e especialidades, a Semed abraça esse com fervor, capacitando todos nossos profissionais para que a educação alcance cada uma das crianças que necessitam", concluiu.

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