Educação bilíngue de Maceió é tema de mesa em evento acadêmico de Pernambuco
Professoras da rede municipal falaram sobre a implantação do projeto bilíngue e dos desafios da pandemia no ensino de crianças surdas
A educação bilíngue de Maceió foi tema de discussão em uma mesa organizada pela Universidade de Pernambuco (UPE) na noite desta terça-feira (16). Com o tema “Educação especial – as experiências do município de Maceió na implantação do ensino bilíngue”, o diálogo contou com três pedagogas da rede e focou na construção do projeto bilíngue na capital e os desafios enfrentados durante a pandemia.
Mediada pela professora Sirlene Vieira da UPE, a roda de conversa teve como convidadas Daniella Lins e Alinne Lima, técnicas da Coordenadoria Geral de Educação Especial da rede municipal de Maceió, e Meire Santos, professora instrutora de Libras (Língua Brasileira de Sinais) que atua com a educação bilíngue da capital. Daniella iniciou sua fala explicando o histórico da educação especial em Maceió, que teve seu projeto piloto implantado em 2019.
“Tínhamos salas só de surdos antes, mas com a aprovação da Política Nacional de Educação Especial numa perspectiva Inclusiva, em 2008, as salas foram desfeitas e esses alunos foram dispersados”, relembrou Daniella. “Para várias crianças, isso foi bom, pois trouxe uma visibilidade inédita. Mas para os alunos surdos, houve uma separação de seus pares linguísticos e não foi tão positivo”.
Com a implantação do Projeto Piloto de Ensino Bilíngue em 2019, a Escola Municipal Maria Carmelita Cardoso Gama (Caic) se tornou a escola piloto, onde os estudantes de diversas escolas e bairros passaram a frequentar e estar junto a seus pares linguísticos.
Professora Instrutora de Libras do Caic, Meire explica que a educação com os estudantes surdos envolve muitos estímulos visuais. “Para que esse aluno consiga acompanhar, usamos muitos estímulos visuais, materiais adaptados”, explica. Um esforço começou em 2019 para levar as crianças para as escolas-polo, especialmente com a oferta de transporte escolar para aquelas que moravam mais distante.
“Em 2020, veio a pandemia e isso interrompeu o processo”, continua Meire. “Nosso trabalho passou a ser muito de manutenção do vínculo com essas crianças, para reforçar e não deixar elas perderem o contato com a língua de sinais”. Para essa continuidade, as três convidadas concordaram que as famílias foram essenciais.
Foram ofertadas duas capacitações em Libras desde o início da pandemia na rede municipal. Em 2020, foi ofertado um curso para os profissionais da educação, que teve adesão considerável. “Agora em 2021, ofertamos um curso de libras para os familiares dos alunos, com momentos síncronos e um grupo no WhatsApp com atividades”, diz Meire. “Se não fosse a família nesse momento, o nosso trabalho não estaria dando fruto”.
Fora das escolas-polo
As crianças que não ingressaram em escolas-polo, com Salas de Atendimento Especializado Bilíngue (SAEB), não ficam desassistidas. Com o trabalho de intérpretes nas escolas com estudantes surdos, materiais são adaptados e um vínculo é criado com a língua. Alinne Lima é uma dessas profissionais e compartilhou com a roda sua experiência com Josué, um estudante surdo que não tinha contato com a Libras.
“Ele tentava falar o tempo inteiro e a escola tentava contribuir, mas não tinha nenhum profissional na época”, contou Alinne. “Foi um desafio tão grande que eu fui me encantando por esse desafio. Quando ele começou a olhar minhas mãos eu percebi que alguma coisa estava acontecendo”.
Para ela, o maior desafio foi criar um vínculo de confiança com o aluno, que não costumava seguir as regras da escola, muitas vezes devido à barreira linguística na hora de receber instruções. Ela se reuniu com os professores e a direção da escola e começou a traçar estratégias de ensino, como um caderno de atividades adaptado. O menino também passou a ser estimulado a usar sinais para pedir coisas e assim a comunicação em Libras começou a acontecer.
A mãe de Josué foi estimulada a fazer um curso de Libras para se comunicar com o filho na sua língua materna, e os próprios colegas de sala começaram a pedir para aprender alguns sinais para se comunicar com ele. “Essa criança nervosa, impaciente na creche, acabou. Porque na creche ele tentava se comunicar e as pessoas não entendiam, e esse nervosismo não acontecia mais depois da língua de sinais”, pontuou a intérprete.
Josué seguiu na rede até o segundo ano do fundamental, quando teve de se mudar. “Josué saiu da rede, mas minha missão com ele, senti que foi cumprida, porque essa língua mudou a vida dele”, concluiu Alinne.
Luan Oliveira (estagiário) / Ascom Semed
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