Aos 9 anos, aluna da rede municipal de ensino cria histórias e confecciona os próprios livros de forma artesanal
Lorrany Tiffany da Silva estuda na Escola Municipal Eulina Alencar e tem o sonho de ser escritora
“Quando eu tinha 5 anos comecei a ler e a escrever. Criei as histórias quando não tinha nada para fazer, peguei os papéis, dobrei e montei os livrinhos”, explica a pequena Lorrany Tiffany da Silva, 9 anos, que estuda no 4º ano do Ensino Fundamental, na Escola Municipal Eulina Alencar, localizada no Jacintinho.
Lorrany é uma das 659 estudantes da unidade de ensino, que atende alunos do 1º ao 5º anos do Ensino Fundamental e da Educação de Jovens, Adultos e Idosos, que se destaca ao produzir suas próprias histórias e apresentá-las em cadernos artesanais.
Ela participou da programação da Festa Literária do projeto VaLER a Pena, que ocorreu no dia 11 de julho, quando apresentou seus trabalhos para todos os colegas. “Eu fiquei paralisada, porque vi muitas pessoas assistindo, quase 500 ou mil pessoas. Fiquei com vergonha, mas, ao mesmo tempo, muito feliz e animada”, comenta Lorrany.
Com um olhar esverdeado, atento e curioso, vestida com o uniforme escolar, sandálias e cabelos encaracolados, a pequena espera ansiosamente a entrevista ao lado de sua mãe, Letícia da Silva Honorato, 35 anos, que é dona de casa e faz salgados para vender.
Na mesa, sentada, Lorrany caminha o olhar pela equipe de reportagem, com os pés suspensos – quase sem tocar o chão -, esperando a conversa começar.
Apesar da pouca idade, Lorrany narra bem os fatos e as inspirações que a motivam a escrever. Suas histórias consistem em transformar momentos do cotidiano, especialmente objetos, em algo vivo e falante.
Contos de fadas, fábulas, aventuras, fantasias, são alguns dos gêneros que ela aborda nos livros, que já chegam a mais de 100. Gatos, cachorros, macacos, abelhas, armários e mesas vivas, a amizade entre flores que falam, a conversa entre um guarda-chuva e uma cadeira, são resultados de sua imaginação criativa. Os personagens ganham vida no mundo criado pela estudante.
“Eu penso em animais, pessoas, objetos. E eu invento. Fiz também um livro 'Se os Móveis Falassem'. Eu gosto muito de desenhar as histórias e também é fácil escrever, criar. Antes, eu fazia histórias com letra bastão, hoje faço um pouco melhor”, contou ela, que também comentou que após a confecção dos livros, distribui para os pais, os dois irmãos, amigos e professores da escola. “Sempre divulgo com os professores e eles agradecem", revela.
Ao escrever as histórias, a criatividade da estudante é capaz de transformar a memória em fantasia. Durante a entrevista, pedimos para que contasse uma das histórias que ela escreveu. Ela escolhe a fábula sobre a amizade entre uma aranha e uma borboleta. Sem gaguejar e com uma singularidade espontânea, a menina contou a história sem interrupções e sem pensar demais.
Inspirações
Lorrany contou que recebeu o apoio e a motivação com as aulas de sua professora do 3º ano, Elizabeth Gonçalves. Alguns anos antes, durante as atividades em sala de aula, Elizabeth passava atividades que estimulavam a escrita e a leitura e a a expressão oral da estudante, pois, segundo a docente, a aluna era tímida e sentia dificuldade de falar em público.
“Lorrany sempre foi uma aluna exemplar e inteligente, e também era muito tímida, sempre travava quando ia falar em público, com vergonha. Mas, ela não desistiu. Hoje em dia, está mais esperta, solta, mais confortável com as palavras. É muito gratificante presenciar esse avanço, com tão pouca idade”, enfatizou a professora.
Segundo a mãe de Lorrany, a pequena já demonstrava interesse na escrita desde que tinha 4 ou 5 anos, até que revelou para o pai que preferia ser escritora, ao invés de enfermeira. Os outros dois irmãos da estudante também têm veia artística, já que ambos desenham e pintam. Já o pai é autônomo e utiliza as artes gráficas para confeccionar banners.
“Lorrany é muito estudiosa. Sempre amorosa com a família, está sempre entregando cartas e histórias para mim e para o pai dela. É emocionante ver que todo o esforço dela e da família está dando bons frutos. Mesmo antes de ela entrar aqui na escola, já sabia ler e escrever, aprendendo muito rápido. Às vezes, fica com preguiça de fazer as tarefas, mas a gente conversa e ela consegue fazer”, afirma Letícia, esboçando um sorriso.
Empolgada com o futuro, a pequena escritora encerra a conversa reafirmando um sonho. “Eu quero escrever sobre animais, sobre coisas antigas, sobre o futuro e vou escrever outro livro sobre isso. E no futuro vou fazer um livro de capa dura”, ressalta.
Modelo para outros estudantes
A diretora escolar Maria Marlene Santos explica como começou o interesse da estudante pela escrita. "Ela elaborava textos para presentear as professoras, a mim, à coordenação. Lorrany sempre foi observadora, espontânea, seletiva e objetiva. Comecei a perguntar como ela fazia tudo e nessa observação,começamos a conversar e a identificar qualidades que poderiam ser potencializadas. Eu até formalizei um pequeno kit, com papel, lápis de cor e demais objetos, para ela confeccionar os textos", afirma.
Marlene destaca a importância da presença e do apoio dos professores, bem como de toda a comunidade escolar, que têm um olhar sensível para captar os talentos de estudantes como Lorrany.
"Nós tivemos um momento literário da Secretaria de Educação de Maceió e incluímos ela e mais outros estudantes na programação. Ela se sentiu uma princesa, elogiada, vista pela escola. Acredito que seja um modelo para os demais. Temos também muitos artistas entre os alunos. O apoio dos professores é imprescindível para esses resultados", frisa.
A diretora conclui dizendo que nunca viu tantos trabalhos e projetos sendo desenvolvidos ultimamente para os estudantes da rede pública municicpal de ensino. Ela acredita que são essas ações que movem o mundo e contribuem para o desempenho no IDEB.
"A gente corre atrás para que esse estudante saia feliz e satisfeito e também focamos para que seja gratificante para o professor. Eu sei que as demandas são muitas, mas todo mundo reconhece a importância de cada programa e projeto aqui na escola", salienta.
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