Novos equipamentos reforçam monitoramento da área de subsidência

Redação 31/12/2020 às 12:32
Novos equipamentos reforçam monitoramento da área de subsidência

Mais dez sensores GPS, que medem a movimentação de solo em superfície, passaram a fazer parte dos equipamentos que monitoram a área afetada pela instabilidade provocada pela mineração neste mês de dezembro. Os novos equipamentos instalados pela Braskem, somados aos dados de interferometria, visitas de campo, vistorias e outros estudos auxiliarão os diversos profissionais que atuam diariamente no monitoramento do maior desastre em atividade no país.

A expectativa da Defesa Civil Municipal agora é a conclusão da implantação da rede sismográfica para assim conseguir informações detalhadas sobre a movimentação nas cavernas de exploração de sal-gema, cuja desestabilização vem provocando a subsidência nos bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bebedouro e Farol – segundo relatório conclusivo do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Os novos sensores fazem parte de uma rede que atualmente conta com 28 DGPS espalhados dentro e no entorno das áreas do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias – divulgado em dezembro de 2020. A aquisição e implantação destes equipamentos estão sendo realizados pela empresa Braskem, através de Termo de Cooperação Técnica entre a Prefeitura de Maceió e a mineradora.

“São sensores de GPS que estão instalados nos bairros. Atualmente, temos 28 ao longo desses bairros afetados, mas já identificamos a necessidade de melhoria desta malha para se ter uma ideia melhor da movimentação do solo. Além desses equipamentos, a gente recebe dados de interferometria, que também mede a movimentação do solo por satélite. A área que esta interferometria alcança é muito além das áreas do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias, nos dando subsídio quanto a movimentação de solo relacionada ao problema geológico”, explicou o geólogo do Cimadec, Antonioni Guerrera.

Sala de monitoramento recebe dados de equipamentos instalados em áreas afetadas pela instabilidade de solo (Foto: Ascom Defesa Civil)

O geólogo destaca ainda que é através desse monitoramento por GPS e via satélite que os profissionais do Centro Integrado de Monitoramento e Alerta de Defesa Civil (Cimadec) conseguem ter taxas, velocidades e acumulados dessa movimentação. Há regiões próximas às cavidades de exploração de sal-gema que registram subsidências com níveis de até 34cm/ano na área mais crítica. “A interferometria nos dá principalmente a subsidência, o afundamento, apontando como está afundando e quanto está afundando o solo. Ela também nos dá resposta quanto a movimentação lateral na direção leste [sentido Lagoa Mundaú]. Esses dados são somados aos apontados pelos DGPS, que mostra a movimentação norte/sul [lateral], complementam o monitoramento de movimento de solo”, completou o geólogo.

Já em relação às cavidades de mineração, está para ser instalada uma rede sismográfica, também através de Termo de Cooperação com a Braskem. Estes sismógrafos, 16 num total, farão o monitoramento de qualquer evento de sismos que ocorra dentro das cavernas. “Serão instalados seis sensores de profundidade e de alta precisão ao longo dos bairros e eles conseguirão detectar a movimentação associada às cavernas. Então, qualquer movimentação que a caverna tenha, seja colapso, um desabamento de teto ou algo do tipo, esses sensores vão conseguir medir. Porém, a gente ressalta que o processamento e análise de dados, até se ter algo confiável, leva tempo. A Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através da Laboratório Sismológico coordenado pelo professor Aderson Nascimento, que é um dos responsáveis pela rede de monitoramento sismográfico do Brasil, é que vai fazer esta análise dos dados, garantindo qualidade nas informações fornecidas pelos equipamentos”, ressaltou Guerrera, destacando ainda que o projeto da rede sismográfica foi construído por pesquisadores das Universidades Federais do Rio Grande do Norte e de Pernambuco.

Ainda dentro das ações de monitoramento, os dados fornecidos por equipamentos dão suporte para as visitas e estudos de campo. Os profissionais conseguem mapear feições e vistoriam edificações com possíveis problemas associados à instabilidade de solo. “A coleta de dados em campo é muito importante. Ela é realizada tanto pela Defesa Civil, quanto pela Junta Técnica e CPRM, além de informações fornecidas pela população. Estas informações somadas aos dados dos equipamentos dão ideia da movimentação que está ocorrendo na área, se há aceleração, se está abrangendo outras áreas. A partir desses dados, são realizadas diversas reuniões entre as Defesas Civis Municipal e Nacional e CPRM, além dos consultores das Universidades Federais, onde são discutidos os dados coletados no decorrer do tempo. À medida que esses dados se tornam mais relevantes, há a decisão de mudança de criticidade de uma área, acréscimo de área, qualquer tipo de modificação necessária para aquela região, que pode levar a atualização do Mapa de Linhas de Ações Prioritárias”, explanou um dos engenheiros civsl do Cimadec, Victor Gama.

O monitoramento da área afetada pela instabilidade de solo é feito por profissionais da Geologia, Geografia, Engenharia Civil, Meteorologia, Engenharia de Agrimensura, entre outros que integram o Cimadec. Estes profissionais contam com o apoio de técnicos da Defesa Civil Nacional, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e, mais recentemente, de pesquisadores das Universidades Federais de Pernambuco (UFPE), do Rio Grande do Norte (UFRN) e da Bahia (UFBA).

“É um trabalho complexo e novo no país, por este motivo procuramos manter os profissionais da Defesa Civil sempre capacitados e contar com o apoio dos melhores profissionais da área. Nenhuma tomada de decisão da Defesa Civil Municipal é feita aleatória e conta com a consultoria desses profissionais para que as medidas de salvaguarda da população sejam acertivas”, disse o Coordenador Geral da Defesa Civil de Maceió, Dinário Lemos.

Vistorias e estudos em campo fazem parte do monitoramento permanente da área afetada pela instabilidade de solo (Foto: Ascom Defesa Civil)

Riscos

As ações para identificação do problema que afeta os bairros do Pinheiro, Mutange, Bebedouro, Bom Parto e Farol tiveram início em fevereiro de 2018, quando a Defesa Civil de Maceió foi acionada para averiguar uma fissura de aproximadamente 280 metros de extensão numa via do bairro Pinheiro. Após constatação, técnicos do órgão reuniram evidências e iniciaram uma série de solicitações que trouxe para a capital especialistas do Serviço Geológico do Brasil (CPRM). Depois de um ano de estudos, a CPRM apresentou relatório conclusivo apontando a atividade de mineração como responsável pela subsidência que afeta os bairros.

Esta movimentação de solo, provocada pela desestabilização das cavernas, traz dois grandes riscos associados. O primeiro deles é a ascensão das cavidades que foram exploradas em profundidade até a superfície, provocando o risco de sinkhole ou dolinamento – como é mais conhecido. “Literalmente é um buraco que pode surgir na superfície. É difícil prever quando isso vai acontecer e, por este motivo, a Defesa Civil trabalha com risco iminente. E isso levou a recomendação de realocação nas áreas afetadas pelo possível dolinamento e interdição e fechamento de trecho da Avenida Major Cícero de Góes Monteiro, assim como da linha férrea”, explicou Antonioni.

Um outro processo que afeta os bairros está associado à movimentação do solo é o afundamento ou movimento lateral que gera danos nas edificações. Por este motivo, muitas casas começaram a apresentar fissuras e rachaduras, gerando risco para os moradores. “Esta área é um pouco maior, ela se estende além da região onde estão as cavidades e gera todo este fraturamento e rachaduras que a gente evidencia em campo. E isso envolve basicamente todos os bairros que hoje contemplam o Mapa da versão 4: Bebedouro com parte do Flexal de Baixo e de Cima, Mutange, Pinheiro, Bom Parto e agora algumas evidências em parte do Farol”, ressaltou o geólogo.

Questionado sobre a expectativa de estabilização do solo, o geólogo destaca que é difícil fazer previsões. “É difícil dizer o que vai acontecer num futuro, porque cada caso no mundo tem suas peculiaridades. Então, muda o fator geológico. A gente trabalha com camadas de rochas diferentes… o que tem aqui é diferente do que ocorre em outros lugares do mundo. A profundidade dessas cavidades, o tipo de solo… tudo isso influencia e torna o caso peculiar. Existem algumas medidas mitigadoras para ao menos diminuir este processo de movimentação do solo. Um deles é o preenchimento das cavidades, que a mineradora vai ter que fazer. Mas a expectativa é que este fenômeno ainda dure vários anos e o monitoramento, até o momento, é a medida mais eficaz para acompanhamento do processo e atendimento da população”, finalizou .

Flávia Duarte/ Ascom Defesa Civil