Comitiva visita bairros afetados pelo afundamento
Ação contou com a participação de representantes da Prefeitura de Maceió, Ufal e de grupos culturais
Obedecendo a todas as determinações das autoridades sanitárias foi realizada na sexta-feira (19) uma visita aos bairros Pinheiro, Mutange e Bebedouro, que estão sofrendo o processo de afundamento, por conta da exploração do mineral sal-gema (Halita, nome científico) pela empresa Braskem. A visita cumpriu uma solicitação da arquiteta e professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Adriana Guimarães, sendo articulada pela presidenta da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), Mírian Monte.
Adriana integra um grupo de arquitetos e urbanistas que discute as questões relacionadas ao patrimônio cultural, nas dimensões material e imaterial, ao levar em conta os bens edificados e os processos culturais que estão associados a um determinado território geográfico.
“Nos preocupa muito a situação que hoje vem passando esse patrimônio edificado que está situado nessas zonas de risco, sobretudo, no bairro Bebedouro, por conta de sua historicidade. Temos ali uma grande concentração de imóveis que são reconhecidos legalmente, ou seja, estão protegidos por legislação para sua manutenção e preservação. Nos preocupava saber o que de fato estava acontecendo, qual é a previsão para a preservação desses imóveis e dessas áreas e o que será feito para a preservação desse patrimônio? Indaga a professora de arquitetura, Adriana Guimarães Duarte.
Míran Monte destaca que a ação surgiu da preocupação com a perda material e imaterial dos patrimônios histórico e artístico que ainda fazem parte dos bairros em processo de afundamento e que poderão deixar de existir se ações preventivas não compensarem os danos que já foram causados às identidades social e cultural das populações que ainda residem ou já se mudaram dos bairros de origem.
O representante do Coco de Roda Los Coquitos, Genival Júnior, espera que seja elaborado um plano para que a cultura se mantenha viva e o trabalho de 15 anos à frente do grupo cultural não se esfarele no tempo. JR, como é conhecido, conta que antes os grupos eram formados por até 100 casais e hoje não passam de 20 porque as famílias dos brincantes se mudaram de Bebedouro, o bairro que ainda é considerado o berço da cultura de Maceió.
“Temos 15 anos de trabalho no coco de roda. São 15 anos de luta, de força, de tentar, de manter, brigar com tudo e com todos, porque não é fácil manter um grupo cultural e vê, assim, seus componentes tendo que sair dessas regiões, ir para outro canto e a gente perder esse grupo. Lutar tanto para ter um desenvolvimento cultural forte na nossa cidade e de repente você vê seus componentes saindo, indo morar muito longe, saindo dessa comunidade. Bebedouro era o maior berço da cultura que a gente tinha aqui e hoje a gente perdeu isso, então todos os grupos ali ao redor acabaram sendo prejudicados. Hoje os mais afetados são o Estrela de Alagoas, que é do Flexal, o Reviver, que hoje se encontra na Chã de Bebedouro e Los Coquitos, que hoje se encontra na Chã da Jaqueira”, diz JR.
Também participaram da visita, o coordenador-geral da Defesa Civil de Maceió, Abelardo Nobre, um representante do Coco de Roda Reviver e outro do Coco de Roda Los Coquitos. Para garantir a segurança, a ação foi acompanhada pela brigada da Defesa Civil Municipal.
Antes de conhecer o processo de afundamento dos bairros, Abelardo Nobre mostrou os motivos da ocorrência do fenômeno, que atinge ainda outros dois bairros, Bom Parto e Farol, formando assim cinco localidades de Maceió afetadas pelo que os geólogos chamam de processo de subsidência.
Na reunião estavam presentes o coordenador do Gabinete de Gestão Integrada para a Adoção de Medidas de Enfrentamento aos Impactos do Afundamento dos Bairros (GGI dos Bairros), Ronnie Mota, a coordenadora geral do Patrimônio Histórico da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (Sedet), Maria Adeciany Souza, e a advogada e diretora da Federação das Associações de Moradores e Entidades Comunitárias de Alagoas (Famecal), Juliana Ivo.
A coordenadora geral do Patrimônio Histórico da Prefeitura de Maceió enfatiza que o trabalho de mapeamento das zonas históricas de preservação já foi feito quando da elaboração do Plano Diretor da cidade. “Identificamos os imóveis, as zonas históricas de preservação que está tudo relacionado ao Plano Diretor de Maceió de 2005. A relação desses imóveis, que devem ser preservados e cautelados, foi encaminhada à Braskem”, diz Maria Adeciany.
O trabalho da Coordenação de Patrimônio Histórico da Sedet identificou ainda as chamadas Unidades Especiais de Preservação (UEPs), como por exemplo, o prédio onde funciona a Clínica de Saúde José Lopes, as sedes do Instituto de Meio Ambiente (IMA) e do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Alagoas (Sinteal).
São cerca de 25 imóveis que fazem parte de uma rota que acompanha o trilho do trem no qual os historiadores identificam como sendo uma das ocupações mais antigas de Maceió. “Nesse momento a prioridade é a questão das vidas, mas o patrimônio tem que ficar conforme as condições que forem necessárias ao local de proteção”, revela a coordenadora do Patrimônio Histórico da Prefeitura de Maceió.
A presidenta da FMAC pontua que o poder público deve atuar na reconstrução de novos laços e senso de pertencimento comunitário das famílias que foram afetadas pelo processo de afundamento.
“Vamos fazer o levantamento de todas essas informações relativas aos patrimônios material e imaterial. Relacionar tudo o que está sendo perdido com o afundamento dos bairros, desde os grupos que estão se desfazendo, até o levantamento de todo o histórico da região. Verificar quais os imóveis são objeto de proteção judicial, cujo valor cultural e histórico já está protegido pela legislação para tomar as medidas administrativas cabíveis e cobrar dos responsáveis a manutenção das edificações históricas, inclusive mobílias e outras peças que compõem o acervo dos prédios e fazem parte da nossa História”, constata Mírian .
Cícero Rogério
Ascom/FMAC
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