Afroempreendedores e grupos culturais comemoram visibilidade no Vamos Subir a Serra e Saurê Palmares

Iniciativa proporciona reconhecimento a quem trabalha com ações afroculturais na capital alagoana

Gleycyanny Romão (estagiária)/Secom Maceió 15/11/2023 às 15:17
Afroempreendedores e grupos culturais comemoram visibilidade no Vamos Subir a Serra e Saurê Palmares
Teresa Olegário vende turbantes no Vamos Subir a Serrra. Foto: Felipe Sóstenes/Secom Maceió

Novembro é mês da Consciência Negra, em que se celebra a luta do herói brasileiro, Zumbi dos Palmares, marcando a importância das ações de combate ao racismo e da efetivação de políticas públicas para a igualdade racial.

Em reconhecimento à luta e a cultura afro, há nove anos o Vamos Subir a Serra é celebrado em Maceió e, em 2023, o Saurê Palmares foi incorporado ao evento. O incentivo da Prefeitura de Maceió e da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC) reflete na visibilidade dos afroempreendedores, grupos culturais e na resistência construída ao longo da história.

Uma das ativistas e afroempreendedoras presente no evento é conhecida como Olegário Turbantes. Tereza comercializou seus produtos e também ministrou a oficina de lenços ao público. “O turbante entrou na minha vida quando eu deixei de alisar meu cabelo para aceitá-lo natural, crespo. Hoje, as pessoas têm procurado os lenços como uma forma de empoderamento, para aprender sobre nossa ancestralidade e o movimento negro. É algo histórico, faz parte da estética e traz autoastral para as mulheres e homens negros”, explicou.

Tereza também foi contemplada com o auxílio financeiro do Banco da Mulher Empreendedora, programa realizado na gestão JHC junto à Secretaria da Mulher (Semuc). “Boa parte dos meus materiais foram conquistados com recursos do Banco da Mulher Empreendedora. Eu comprei meus tecidos para confeccionar e poder expor aqui na feira, transformou minha vida porque consegui aumentar as vendas”, comemorou.

Já Caio Pereira tem uma história ligada ao Vamos Subir a Serra desde 2021, quando ainda morava em São Paulo. Ano da primeira participação no evento que o fez se apaixonar por Maceió. Há quatro anos, ele criou a marca Kabelera, a qual produz bonés, toucas de cetim, de banho e outros produtos para cabelos cacheados, crespos, com tranças e dreads.

Caio explicou como a marca surgiu e a decisão de tornar a capital o novo lar. “Uma vez eu participei de um evento e tinha que usar boné, mas ele não coube porque meu cabelo é volumoso, então eu cortei e deu certo. Depois, entendi que outras pessoas já passaram pelo mesmo problema, foi quando surgiu a ideia de criar a minha marca. Vim a Maceió em 2021 para expor no Vamos Subir a Serra e, no segundo dia de evento, eu olhei para o mar da Pajuçara e decidi que ia morar aqui. Eu nunca tinha pensado em sair de São Paulo, mas foi uma das melhores decisões”, disse o afroempreendedor.

Depois de expor pela primeira vez no evento, Caio se mudou de São Paulo para Maceió. Foto: Felipe Sóstenes/Secom Maceió
Depois de expor pela primeira vez no evento, Caio se mudou de São Paulo para Maceió. Foto: Felipe Sóstenes/Secom Maceió

O evento segue até esta quarta-feira (15), na Praça Multieventos, no bairro Pajuçara. Quem passar por lá poderá assistir palestras, oficinas de lenço, tranças, apresentação de bandas afro, se deliciar no espaço gourmet e, principalmente, comprar nos estandes dos afroempreendedores, que vendem desde bijuterias, até turbantes, esculturas de barro, roupas, livros, bonés e outros acessórios.

A programação reafirma a importância do mês da Consciência Negra e a luta histórica no combate ao racismo e à intolerância. Uma das palestras teve como tema: “Políticas públicas afirmativas: O legado ativista e acadêmico de Palmares, conexões e confluências antirracistas”. A ideia da mesa foi aproximar o legado de Palmares, para que a sociedade entenda que ações do passado e presente definem o futuro. Além disso, também foi discutida a questão racial na saúde e na educação.  

Rosana Rocha é turista de São Paulo e prima do empreendedor Caio, ela já sabia do evento e logo foi prestigiar a palestra, além de comentar sobre a experiência completa que o evento proporciona.

“O evento está sendo ótimo, eu vejo aqui discussões super potentes sobre o acesso dos negros na educação, saúde, dados estatísticos do IBGE e tem até oficinas de turbantes e de culinária. O evento é completo e acredito que todos os educadores, negros e brancos deveriam prestigiar. Quem nunca subiu a Serra da Barriga, convido a subir. Eu fui há dois anos e a experiência de pisar no solo de Palmares é indescritível e mágica”, contou.

Após a palestra, os visitantes ficaram ao som da banda Afro Zumbi. O fundador Mestre Vaguinho afirmou que a junção do Vamos Subir a Serra com o Saurê Palmares tornou o evento mais grandioso. “A união faz a força. O povo preto conta os dias e as horas para que esse mês chegue, algo que poderia acontecer mais vezes durante o ano. É um momento muito importante pra gente que faz a cultura afro, nosso trabalho é contínuo”, revelou.

Espaço gourmet

É a segunda vez que Dayana Oliveira, proprietária da Marola Laticínios Veg, participa. Ela disse que está sendo uma oportunidade de mostrar que o povo preto também empreende e destacou que as vendas estão ótimas. “Além das vendas, que superaram minhas expectativas, o evento traz uma oportunidade de reencontros com nossa ancestralidade e cultura. À medida que vendemos, também dialogamos, conhecemos  outros empreendedores e aprendemos com as palestras que estão acontecendo em nossa frente. Espero que venham mais e mais edições”, ressaltou.

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