Capacete aberto: conforto ou risco? Motociclistas e especialistas debatem segurança no trânsito

Especialistas alertam para o uso incorreto do equipamento e atestam aumento dos riscos de traumas faciais

Ascom DMTT 04/11/2025 às 16:00
Capacete aberto: conforto ou risco? Motociclistas e especialistas debatem segurança no trânsito
Praticidade do capacete pode trazer consequências trágicas. Foto: Jader Ulisses/ Ascom DMTT

Em uma cidade quente como Maceió, o capacete aberto é a escolha de muitos motociclistas por conta do conforto térmico. No entanto, especialistas alertam que o modelo, apesar de permitido pela legislação, deixa áreas vitais do rosto expostas, o que pode resultar em traumas graves e até fatais. O DMTT ouviu motociclistas, profissionais da saúde e um agente de trânsito para entender os riscos e as motivações por trás da decisão de utilizar o equipamento.

O alerta se torna ainda mais urgente diante dos números crescentes de acidentes com motociclistas em Maceió. Segundo dados do Hospital Geral do Estado (HGE), só nos primeiros seis meses de 2024, 1.120 motociclistas vítimas de acidentes de trânsito foram atendidos na unidade hospitalar. O número representa um aumento de pouco mais de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.

O que dizem os especialistas?

Do ponto de vista técnico, o agente de trânsito Wanderson Freitas reforça que a Resolução 940 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) regulamenta os tipos de capacetes permitidos no Brasil, incluindo os modelos abertos e integrais. Apesar de ambos serem autorizados, a segurança oferecida é diferente. “O capacete integral protege toda a caixa craniana, inclusive a mandíbula. Já o aberto, muito usado no meio urbano, deixa o queixo e o rosto expostos. Em colisões, a primeira parte a bater é o rosto, e os traumas são severos”, aponta.

Wanderson cita estudos que comprovam: capacetes fechados podem reduzir em até 30% as fraturas faciais. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Detran de São Paulo e da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA -EUA) reforçam a eficácia do modelo integral na proteção do motociclista.

Além disso, o agente destaca que o problema não está apenas no tipo de capacete, mas na forma como ele é utilizado. “Muitos motociclistas deixam a viseira aberta, não usam a fivela jugular corretamente ou sequer ajustam o tamanho do capacete. Isso é extremamente perigoso. Em uma colisão ou queda, o capacete pode ser arremessado, deixando a cabeça completamente exposta. E pilotar com a viseira aberta facilita a entrada de pedras, insetos ou outros objetos, o que pode causar lesões, atrapalhar a visão e provocar acidentes”, informa.

A 2ª Sargento Anielly Santos, socorrista do Corpo de Bombeiros Militar de Alagoas, afirma que o uso de capacetes abertos está diretamente relacionado a traumas crânio-encefálicos e lesões faciais severas. “As lesões mais frequentes são cortes contusos, edemas e fraturas na face e crânio. Já vi muitos casos que poderiam ser evitados com o uso do capacete fechado”, explica.

Vozes da rua: entre a segurança e a sobrevivência

As motivações para a escolha do tipo de capacete variam conforme o perfil do condutor. No caso de Gustavo Melo, comerciante e motociclista por hobby, a prioridade é a segurança. “Escolho o capacete fechado por segurança. Já vi muitos casos graves com capacetes abertos. O rosto fica muito vulnerável”, diz.

Gustavo relata que costuma fazer viagens e passeios longos de moto, muitas vezes, em estradas e vias de maior velocidade. Para ele, não há margem para risco. “O capacete aberto pode até ser mais confortável, mas não protege o que mais importa: o nosso rosto e a base do crânio. Numa queda, é essa região que bate primeiro. Prefiro aguentar o calor e estar protegido, do que facilitar e correr o risco de uma fratura facial ou até coisa pior”, conta.

O motociclista de aplicativo, Eduardo Silva, apresenta uma perspectiva diretamente moldada pelo cotidiano urbano e pelas exigências da profissão. Ele roda pelas ruas da cidade o dia todo, lidando com calor, trânsito intenso e, muitas vezes, áreas consideradas perigosas. “Eu sei que o capacete fechado protege mais, mas no dia a dia da corrida, não dá. O calor é muito forte, a gente chega a ficar tonto dentro daquele capacete fechado", revela.

Mas a temperatura não é o único fator que pesa na escolha de Eduardo. Ele destaca um ponto sensível para muitos profissionais da categoria: a segurança em áreas de risco. “Tem lugares onde, se você entrar com capacete fechado, ninguém sabe quem você é. Pode ser confundido, pode ser parado. Com o capacete aberto, seu rosto fica visível e isso ajuda muito. Em alguns bairros, é questão de sobrevivência”, enfatiza.

Além disso, a escolha também se adapta ao comportamento dos passageiros, a maioria, segundo ele, mulheres. “Elas não gostam do capacete fechado. Reclama que borra a maquiagem, que aperta. Então, o aberto acaba sendo mais prático para todo mundo. É mais leve, mais rápido de colocar e tirar”, comenta.

Um alerta que pode salvar vidas

Embora a lei permita os dois modelos, especialistas defendem que a escolha do capacete deve ir além do conforto. A proteção total da cabeça e do rosto pode fazer a diferença entre a vida e a morte. Além disso, é fundamental utilizar o equipamento de forma correta: com fivela fechada, viseira abaixada e tamanho adequado.

A recomendação é clara: o capacete ideal é aquele que protege o motociclista por completo, inclusive a mandíbula, e que esteja corretamente ajustado ao corpo.

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